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Mostrando postagens de novembro, 2007

Estudando o Tao - parte - 21

Estudando o Tao: Consciência e Sabedoria 32. "Quem tem consciência de sua limitação, não corre perigo" Há uma diferença fundamental entre saber algo e ter consciência desse algo. Essa distinção é crucial no nosso processo de crescimento, pois lidamos com a consciência o tempo todo. Já abordamos o tema das nossas limitações, mas a questão agora é mais profunda: até que ponto temos consciência real delas? Pense na matemática. Se eu pergunto se você entende do assunto, sua resposta pode ser "sim" ou "não". Mas a matemática vai dos rudimentos da aritmética a problemas teóricos complexos. Sua resposta, então, depende do seu conhecimento, da sua honestidade e do seu conceito de honestidade. Entre jogadores de xadrez, a resposta é quase um padrão: quem não joga muito bem, responde "não". Já os que jogam muito bem, respondem "sim". Nesses exemplos, a resposta carrega um nível de consciência que vai além do superficial. O aperfeiçoam...

Estudando o Tao - parte - 20

Estudando o Tao - Parte XX: A Roda da Fortuna e a Justiça do Tao 30. "Há os que estão acima e os que estão abaixo, e a situação nunca será a mesma." A carta do Tarô, A Roda da Fortuna, mostra exatamente isso: as figuras que nela estão presas ora ficam no topo, ora na parte de baixo.  O significado é claro: as situações não são fixas nem imutáveis. Essa lição nos convida a ser modestos e a abandonar a vaidade e a arrogância. Para quem estuda o Tao, esses sentimentos egoístas se tornam tão pequenos e tolos que perdem o sentido. Como é possível que uma pessoa inteligente seja cheia de orgulho? Parece um absurdo, mas acontece com frequência. Precisamos distinguir entre "viver no mundo" e "viver para o mundo".  Se vivemos no mundo, o trabalho tem um significado; se vivemos para o mundo, com todas as nossas energias voltadas para ele, o trabalho se torna uma ilusão, e a vida, que não se diferencia da morte, perde o sentido.   31. "O Tao é implacáv...

Estudando o Tao - parte - 19

28 de novembro de 2007 - Estudando o Tao - Parte XIX: Equilíbrio e Ação 27. "Aquele que se vangloria, não será reconhecido." O mundo é um palco de lutas por status e poder. Depois de alcançados, começa uma nova batalha para se manter ou subir ainda mais. Muitos usam de recursos abjetos, outros de "diplomacia" e outros de intrigas. O ambiente de trabalho, por exemplo, é uma oficina onde se forja uma moral peculiar: a da escalada. Pessoas que entendem o organograma informal de uma empresa manipulam a maledicência, jogando fora qualquer resquício de ética. O resultado? Quem chama muita atenção para si, quem se vangloria, colhe o que plantou: a rejeição e o repúdio. É apenas uma questão de tempo. 28. "Ajude os que desejam ajuda." A persistência é um dos fundamentos do desenvolvimento pessoal. A repetição de ensinamentos no Tao Te Ching sobre o par complementar "desejar e querer" é um exemplo disso. A história do homem que, em vez de dar e...

Estudando o Tao - parte - 18

Estudando o Tao - Parte XVIII: Concentração e Evolução 24. "Viver nossas tarefas é estar no Tao." Lao-Tsé nos ensina, com admirável concisão, uma lição milenar: quando estamos verdadeiramente presentes, vivenciando cada momento de uma tarefa, recebemos a grande graça do Tao, que é a perfeita harmonia de corpo e mente.  Um escritor, por exemplo, ao se colocar em wu-wei (estado de mente despreocupada com a questão), abre um espaço que é rapidamente preenchido pelo Tao, trazendo inspiração e a resposta. Essa interação entre o homem e o Tao é surpreendente. Um poeta, em serena concentração, entra no mundo da intuição, onde os versos fluem de forma equilibrada e harmoniosa. Esse mundo é o Tao. Para quem segue o caminho do Tao, a lição é simples: fazer a coisa certa é viver e sentir cada instante do que se está fazendo. É a serena concentração.   25. "O vazio será cheio e o incompleto será completado." Conheci uma pessoa que se declarava incompetente e sem val...

Estudando o Tao - parte - 17

Estudando o Tao - Parte XVII: A Harmonia e a Justiça do Universo 23. "O mundo se alegra numa festa que acredita não ter fim." O mundo está dividido entre ricos e pobres, e dentro de cada país, a desigualdade social é gritante. Quando pensamos em ecologia, geralmente nos limitamos a plantas, animais e oceanos. Mas o ambiente é influenciado por todo o processo econômico e tecnológico. Por isso, a ecologia deve ser mais abrangente e incluir as mazelas sociais, políticas e econômicas do planeta. É um tipo de ecologia holística, nada bonita de se ver, mas que reflete a realidade. O Tao, como Ordem harmônica, age para manter o equilíbrio. A riqueza de um país gera a pobreza de outros. A violência dos bandidos tem sua contrapartida na polícia. A ação do homem contra a natureza resulta na ação da natureza contra o homem. O planeta precisa de equilíbrio para subsistir, e o Tao promove esse reequilíbrio a cada instante. Nem sempre o resultado nos agrada, mas é inexorável. Ao ...

Estudando o Tao - parte - 16

Estudando o Tao - Parte XVI: A Verdadeira Justiça 21. "Não há Ética onde o Direito toma o lugar da Justiça." Existe uma discussão eterna sobre quem redigiu as leis do Direito: os mais fracos para se proteger, ou os mais fortes para dominar? Independentemente da resposta, é preciso distinguir os valores temporários dos permanentes. O Direito e a Justiça são dois exemplos. O Direito, muitas vezes, tem pouco a ver com a Justiça, pois suas leis são ambíguas e cheias de contradições. A lei escrita muda com a cultura e a civilização. Por exemplo, a pena para um roubo pode variar drasticamente de um lugar para outro. Em contrapartida, a Justiça é um valor permanente. Se tivéssemos um Código de Justiça, ele diria apenas: "não se deve prejudicar outra pessoa". Uma frase sintética, conclusiva e justa. A pena de um, dois ou cinco anos é uma questão de Direito, não de Justiça. A afirmação de Lao-Tsé é feliz, pois a simples aplicação das normas do Direito não garante que...

Estudando o Tao - parte - 15

Estudando o Tao - Parte XV: A Sabedoria da Não-Exigência 18. "O Tao não exige gratidão." É natural e comum pensar que devemos ser gratos a quem nos faz um favor. A ingratidão é vista como uma das atitudes mais negativas. Espera-se que uma gentileza seja reconhecida e retribuída. Para muitos, é impossível imaginar que poderia ser diferente. O Tao, no entanto, é uma Ordem cósmica e universal, uma Lei absolutamente justa. A harmonia que ele promove não depende de raça, religião, orações ou méritos. Ele não guarda mágoas nem rancores, pois são atitudes pequenas, incompatíveis com seus atributos. Se o Tao atendesse apenas a quem suplica, ele não seria o Tao. A afirmação de que o Tao não exige gratidão não significa que ele seja arrogante. Significa que, ao fazer o que faz, ele simplesmente cumpre o atributo da ação justa. Ele faz o que tem que ser feito. A chuva cai porque tem que cair. Não existem "favores" feitos ao Tao, ou pelo Tao. Ele apenas realiza a sua na...

Estudando o Tao - parte - 14

Estudando o Tao - Parte XIV: A Sabedoria da Modéstia 14. "O sábio não luta para impor suas ideias e por isso é inatacável." O que é mais eficiente? Tentar convencer o mundo de que você é um gênio, ou deixar que o tempo e as circunstâncias se encarreguem disso? Quem é verdadeiramente sábio não precisa se proclamar. Suas atitudes, exemplos e palavras são seu melhor passaporte. É admirável ouvir pessoas assim. Suas palavras fluem com naturalidade e segurança, com tanta consistência e decência que não deixam espaço para dúvidas. Pessoas assim dignificam a raça humana. Se nossas ideias forem expostas com clareza, seriedade e modéstia, não há necessidade de outras armas além do conhecimento real. São essas pessoas de grande sabedoria que justificam os esforços para o aperfeiçoamento pessoal. E elas são, de fato, inatacáveis, porque nada pode diminuir seu brilho.   15. "Assim como não se enche um vaso mais do que sua capacidade, nós temos nossos próprios limites....

Estudando o Tao - parte - 13

Estudando o Tao - Parte XIII: O Equilíbrio da Felicidade 11. "Porque o sábio pouco cuida do material; seu Eu evolui." Há algo de errado em nos preocuparmos com o trabalho, o dinheiro e o futuro? Não há erro nenhum, desde que o façamos com moderação. A moderação é sinônimo de harmonia e equilíbrio. O exagero, seja no trabalho ou na poupança, é insensato, pois o ser humano é composto por duas partes: a material e a espiritual. O Tai-Chi nos lembra que a matéria e o espírito são faces de uma mesma moeda, pares complementares. A dedicação exclusiva ao material limita o nosso crescimento. Como o Tao Te Ching nos ensina, o valor das coisas está nos vazios, não nos cheios. Uma panela só é útil se tiver espaço. O mesmo se aplica a nós. Apenas quem tem espaço — para crescer — pode evoluir. O homem comum, que vive na correria do mundo, tem as melhores condições para o crescimento, mas ninguém pode ser obrigado a evoluir. Muitas pessoas estão perfeitamente satisfeitas com suas v...

Estudando o Tao - parte - 12

Estudando o Tao - Parte XII: Silêncio e Conhecimento 9. "Quanto mais falamos do Universo, menos o entendemos." Desde que o pensamento lógico se tornou a base da ciência ocidental, perdemos a oportunidade de usar a razão em conjunto com a intuição, o instrumento da sabedoria. Observar o universo apenas com um telescópio leva a resultados incompletos ou falsos. Há fortes indícios, inclusive na física quântica, de uma relação entre o pensamento e o movimento de partículas subatômicas. Para aqueles que percebem isso intuitivamente, isso não é novidade. A vida mundana se baseia nos sentidos, e a ciência e a tecnologia atendem às necessidades mais aparentes. Mas isso não é suficiente. A ciência racional é incapaz de explorar o maravilhoso e o inexplicável: o que dizer dos sonhos que se realizam, das visões ou das grandes coincidências? A manutenção de posturas científicas inflexíveis, muitas vezes motivadas por interesses pessoais ou arrogância, parece uma falha de caráter....

Estudando o Tao - parte - 11

Estudando o Tao - Parte XI: As Lições do Sábio 6. "Não dê muito crédito à razão e à cultura." Parece ter ficado claro que a cultura não é o valor supremo que a maioria das pessoas pensa. Infelizmente, ainda se confunde cultura com inteligência, competência, sabedoria e até posição social. A cultura é uma ferramenta, uma enciclopédia da qual você busca informações. O problema surge quando a vaidade se instala. A cultura, especialmente a ligada a áreas artísticas e filosóficas, é frequentemente motivo de orgulho. No entanto, os grandes problemas existenciais do ser humano não se resolvem com ela, mas com sensibilidade e intuição. Como diz o ditado, "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Essas razões são os valores que a ciência ignora: intuição, sensibilidade e iluminação. Infelizmente, a cultura é tão supervalorizada que é difícil argumentar contra isso. De qualquer forma, meditemos sobre as palavras de Lao-Tsé. Ao lidar com questões sérias, d...

Estudando o Tao - parte - 10

Estudando o Tao - Parte X: A Virtude da Sobriedade 4. "Não viver pelas paixões, mas pela sobriedade." O que são as paixões? O termo se refere a desejos irracionais ligados a emoções fortes, muitas vezes violentas. A paixão não se limita a pessoas, mas também a causas defendidas vigorosamente ou a objetos que levam ao consumismo. É um tipo de fanatismo, um sentimento desequilibrado, enquanto o amor, em seus níveis mais elevados, é suave, tranquilo e participativo. A sobriedade, um tema central na filosofia do Tao, significa ter um comportamento equilibrado. A falta dela coloca o indivíduo em desvantagem. Ser sóbrio é ter a mente preparada para dialogar, escolher e decidir. Quanto mais complexo o problema, mais sóbria e competente a ação deve ser. A não-violência, por exemplo, está ligada à sobriedade. Ela provoca uma reação passional na outra parte, que, ao perder o controle, já foi derrotada. As grandes vitórias são alcançadas com diálogo sóbrio e eficaz. Uma das ta...

Estudando o Tao - parte - 9

Estudando o Tao - Parte IX: O Poder do "Não-Fazer" 3. "O sábio faz sem fazer e ensina sem falar." Que afirmação espantosa! O que significam essas palavras? Em um lado do Tai-Chi está o fazer, e no outro, o não-fazer. Ao optar pelo não-fazer, o sábio não está se esquivando de uma tarefa. Não-fazer e, ainda assim, obter resultados é uma das coisas mais incríveis do Tao. Isso é possível através de uma atitude mental chamada wu-wei, ou "mente vazia". O indivíduo não deixa de agir por preguiça ou alienação. Pelo contrário, ao esvaziar a mente das preocupações, ele abre espaço para que o Tao atue, alcançando o melhor resultado possível.   O Wu-Wei em Ação Anote, pois isso é muito importante! Você já deve ter experimentado o wu-wei em sua vida. Às vezes, antes de uma prova, decidimos relaxar e esquecer o assunto. Ou esperamos que um sonho nos revele a solução para um problema. Essa é uma forma muito eficiente de wu-wei. Quanto mais você exercita a ...

Estudando o Tao - parte - 8

Estudando o Tao - Parte VIII: Da Teoria à Prática O Tao não tem uma estrutura ou atributos que possam ser medidos por instrumentos conhecidos. No entanto, seus efeitos são sentidos todos os dias, a cada momento, por milhares de pessoas ao redor do mundo. Fatos simples como encontrar a melhor solução para um problema financeiro ou curar uma dor de cabeça podem ser alcançados com um conhecimento mínimo da ação do Tao. Um chinês que pratica conscientemente seu Tai-Chi-Chuan diário sabe que está se aperfeiçoando. Acupunturistas usam as virtudes do Tao a todo instante. Adivinhos que trabalham nas ruas da China baseiam suas previsões no I-Ching, que é puro Tao. O Tao preenche o universo, de um buraco negro a uma galáxia, de um vírus a um ser humano. O tema é sério demais para ser julgado pelas regras rígidas da ciência ou por critérios vagos da metafísica. Por isso, por uma questão de coerência, vamos considerar o Tao como pertencente à classe da ciência paralógica. Não é necessário que todo...

Estudando o Tao - parte - 7

Estudando o Tao - Parte VII: Razão vs. Intuição O homem ocidental, mais do que o oriental, vive pela lógica e se esqueceu da intuição. O pensamento científico cartesiano marginalizou o processo intuitivo, tornando-o menosprezado e até ridicularizado. A razão para isso é que o método científico se baseia em leis axiomáticas e rígidas. Para que uma conclusão seja considerada científica, ela precisa passar por um filtro, um critério que exige repetibilidade.   A Ditadura do Método Científico A repetibilidade significa que se uma pessoa misturou A com B e obteve C, qualquer outra pessoa, sob as mesmas condições, deve obter o mesmo resultado. Isso faz sentido para nós, que somos lógicos. Não devemos desmerecer o método científico por ser rígido ou exigente. Ele é assim porque foi determinado pelos próprios cientistas. É um sistema fechado com regras próprias. Se o tempo provar que o método é falho, ele deixará de existir. Mas, enquanto funcionar, continuará sendo aplicado. A...

Estudando o Tao - parte - 6

Estudando o Tao - Parte VI: Serenidade, Prática e a Visão do Divino Um problema como saúde/doença se apresenta de forma semelhante à dualidade vista no Tai-Chi. A doença parte de um estado de saúde. Ninguém fica doente já estando doente, e a cura só pode acontecer para quem está doente. A cura para qualquer enfermidade está, portanto, inserida na própria doença. Existem inúmeras situações que o Tai-Chi pode espelhar: claro/escuro, bondade/maldade, serenidade/agitação, integridade/destruição. Em um conflito, um lado sempre predomina. A ação corretiva do Tao devolve a proporcionalidade às partes, mas a forma como ele encontra a melhor solução permanece um grande mistério.   A Magia do Tao e o Não-Fazer A resposta para um problema pode estar em um medicamento, em uma pessoa, ou em uma energia localizada no passado, no presente ou no futuro. Essa é a magia do Tao. Segundo os chineses, existem dez mil maneiras de recorrer a essa magia, mas todas exigem um mínimo de serenidad...