Oliver Burkeman escreveu isso...

Mesmo que se considere a felicidade um objetivo digno, porém, há uma armadilha pior à espreita: almejá-la torna muito mais provável que você nunca consiga alcançá-la. “Pergunta a ti mesmo se és feliz”.

Esforço para tentar sentir-se feliz é, muitas vezes, justamente o que nos deixa tristes. E que nossos esforços para eliminar tudo que é negativo — insegurança, incerteza, fracasso ou tristeza — é o que nos faz inseguros, ansiosos, indecisos ou infelizes.

Envolve aprender a apreciar a incerteza, abraçar a insegurança, parar de tentar pensar positivo, acostumar-se ao fracasso e até aprender a valorizar a morte. Resumindo, toda essa gente parece concordar que, para sermos felizes de verdade, talvez tenhamos que nos dispor a vivenciar mais emoções negativas — ou, no mínimo, parar de fugir tanto delas.

Mas esse ponto de vista tem uma história surpreendentemente longa e respeitável. Pode-se encontrá-lo na obra dos filósofos estoicos da Grécia e da Roma antigas, que valorizavam os benefícios de sempre imaginar a hipótese mais pessimista. Está no cerne do budismo, que prega que a verdadeira segurança reside na aceitação irrestrita da insegurança: no reconhecimento de que nossos pés nunca estão em solo firme e nunca estarão. É o que fundamenta a tradição medieval do momento MORI, que celebrava o quanto faz bem à vida não esquecer que a morte existe.

É essa abordagem “negativa” da felicidade que também ajuda a explicar por que tanta gente acha tão benéfica a meditação atenta; por que uma nova geração de pensadores da área de negócios está aconselhando as empresas a deixar de lado a obsessão com metas e aceitar a incerteza; e por que, nos últimos anos, alguns psicólogos chegaram à conclusão de que o pessimismo pode ser, muitas vezes, tão saudável e produtivo quanto o otimismo, ou até mais.

O princípio por trás de tudo isso é aquilo que Alan Watts, filósofo da contracultura dos anos 1950 e 1960, na esteira de Aldous Huxley, batizou de “lei do esforço invertido”, ou “lei do reverso”: o conceito de que em todo tipo de situação, de nossa vida privada à política, todo esforço para fazer tudo dar certo é, em grande parte, justamente o que há de errado. Ou, citando Watts, “quanto mais você tenta boiar, mais afunda; mas quando você tenta afundar, você boia”; e que “a insegurança resulta do esforço para sentir-se seguro”. Muitas vezes, escreveu Huxley, “quanto mais tentamos fazer algo conscientemente, menos conseguimos”.

Os paradoxos são muitos e, quanto mais se pesquisa, mais eles aparecem. Por exemplo, uma situação ou um sentimento pode ser realmente chamado de “negativo” se no fim levar à felicidade? Se “ser positivo” não o faz feliz, dá para chamar isso de “ser positivo”? Se você redefine a felicidade para incluir o negativismo, isso ainda é felicidade? E assim por diante.

*Oliver Burkeman – jornalista americano, estoico e que escreveu um maravilhoso livro intitulado “Manual Antiautoajuda”.

m. trozidio

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