Agora, agora eu tenho que ir mesmo.
Ela tocou o meu
braço esquerdo, me olhou pela última vez, se virou e saiu andando. Eu a
acompanhei com os olhos e, para minha surpresa, em vez de vê-la caminhando por
entre os demais que estavam presentes, eu só consegui mesmo ver a estrada
novamente. Sim! Ela estava caminhando agora por aquela estrada que eu tive a
visão ainda há pouco, uma estrada linda, repleta de árvores com suas folhas
avermelhadas, lembrando e muito o Outono, uma estrada sem veículos e sem
tumulto, livre, tranquila e sóbria. Consegui ainda vê-la caminhando até uma
curva que se fechou a direita, engolindo sua imagem para sempre. Um vento leve
começou a varrer as folhas secas que ameaçavam alçar voo sem um destino
premeditado, e assim, essa cena se encerrou, estática e eterna, como uma pintura
emoldurada em uma parede do meu coração.
Confesso que, sem pedir licença, a
tristeza invadiu minhas muralhas arvorando suas bandeiras na linha de frente.
Ela se foi, a estrada se foi, mas eu não conseguia para de olhar para aquele
quadro vivo, estático à minha frente. Como fumaça branca que sobe aos céus, meus
pensamentos venciam a gravidade e se lançavam simplesmente ao infinito do
próprio ser. Chegadas e partidas, mais partidas do que chegadas também faziam
parte do contexto. Ainda com um resquício de consciência, a lembrança se fez
presente, insinuando-me que eu deveria seguir, seguir o meu caminho, um caminho
que a princípio parecia não ter mais fim.
Trecho do meu livro “O Grande Palco”