Mais um devaneio...
Amanheceu!
O mar, como um enorme espelho
cristalino, mostra-se calmo e tranquilo. O ar fresco da manhã, úmido, invade
minhas narinas procurando libertar meus pensamentos agrilhoados ao tempo. Em
resposta, adiante, algumas gaivotas, dançam mais livres do que nunca o seu voo
mágico, encantador, na busca pela continuidade.
Respiro fundo, jogo a cabeça para trás,
tencionando a nuca, procurando entender um pouco mais tudo isso. Percebo um
certo esforço do Sol, em se mostrar à Terra, mas nuvens robustas, lhe negam
passagem. O mar continua calmo. Parece que ele procura, de certa forma,
envolver-me em seus movimentos contínuos e encantadores.
Conforme continuo caminhando, a areia
massageando os meus pés, paralelamente os pensamentos persistem. Olho para
trás, olho para frente, olho para os lados e não vejo ninguém. O vento tocando
o meu rosto, os meus ouvidos, parece querer me dizer algo, alguma coisa que eu
nunca entendi.
Uma onda um pouco mais forte chega aos meus
pés. A sensação da água fria, tenta me acordar, me despertar de um sonho
acordado de toda essa grande ilusão. Mas, com as raízes do passado, com os
mórbidos conceitos sociais, não consigo libertar os meus pensamentos dessa
força magnética que tenta, de todas as formas, me arrastar, me envolver e me
digerir nessa corrente coletiva.
Percebo toda essa natureza, com todo seu
sincronismo matemático, em perfeita harmonia, divergir de forma radical ao
filme que se passa dentro de mim. Procuro ainda assim, mais uma vez arremeter
meus pensamentos além das fronteiras arqueadas pelo meio; um lampejo, um flash,
um suspiro de verdade surge lá no horizonte. Imediatamente a felicidade brota
das entranhas da minha alma, como um veio de água fresca em pleno deserto,
dispersando as nuvens de ébano, brilhando com o Sol da manhã e toda sua
plenitude, deixando meu coração feliz.
Como por encanto acontece, por encanto
termina. Quando lançado à consciência, quando vibrando com toda essa luz, essa
plenitude, as raízes dos limites, a imposição do meio com seus milhões de
braços e mãos, me puxam de volta, torturando-me pela ousadia implícita do
pensar diferente, castigando-me com a solidão de ficar só em meio à multidão.
Torno a calar meus pensamentos. Torno a mergulhar na tristeza e na amargura da
ignorância.
Ainda assim, vejo de forma doce e suave, como
esse dia cumpre todo seu ritual ao despertar, prosseguindo, como se tudo que o
compreende estivesse em perfeita harmonia, transbordando felicidade.
Essa imagem, parece ficar gravada em minha
mente. Sinto que jamais poderei apagar esse quadro, essa pintura da lembrança.
E assim prossigo. Assim caminho. Assim penso. E assim, continuo escrevendo...
m.trozidio