Eternamente Pitágoras
Pitágoras
e o Número: A Revolução da Filosofia e da Ciência
A figura
de Pitágoras, fundador da escola pitagórica, é envolta em lendas e mistérios.
Nascido em Samos por volta de 571 a.C., ele se mudou para a Magna Grécia e
fundou, em Crotona, uma associação científico-ético-política que se tornou um
centro de irradiação de seus ideais.
Pitágoras
aspirava — e conseguiu — expandir a educação ética de sua escola para uma
reforma política. No entanto, essa ambição gerou oposições, forçando-o a se
mudar para Metaponto, onde provavelmente faleceu por volta de 497 a.C.
Apesar da
escassez de documentação, a influência do pitagorismo na história da filosofia
é inegável, atravessando os séculos até os dias de hoje. Como no caso de
Shakespeare, se a existência de Pitágoras é questionada, a doutrina que leva
seu nome é uma realidade poderosa. Em 1917, a descoberta de uma cripta
pitagórica em Roma comprovou a existência e a difusão de seus seguidores.
A
Essência das Coisas: O Número
Para os
pitagóricos, a essência e o princípio de todas as coisas é o número, ou seja,
as relações matemáticas. Acreditavam que o número era a união da forma e da
matéria. Essa visão, que partia da racionalidade de que tudo é regido por leis
numéricas, evoluiu para a crença de que o número em si era a substância de
todas as coisas.
Para
explicar a multiplicidade e o devir do mundo a partir de um princípio único e
imutável, os pitagóricos introduziram a noção de opostos: o limitado e o ilimitado,
o par e o ímpar, o imperfeito e o perfeito.
Ímpar (limitado): Põe
limites à divisão por dois, sendo, portanto, determinado e perfeito.
Par (ilimitado): Não põe limites à divisão, sendo imperfeito.
Essa
oposição radical explicaria o múltiplo e o devir, reconduzidos à unidade pela harmonia
matemática que governa o mundo material, moral e astronômico.
Pitagorismo
versus Eleatismo
A
filosofia pitagórica se contrapõe ao eleatismo, que afirmava a existência de
uma única unidade, negando a pluralidade e o devir. Os pitagóricos argumentavam
que a própria unidade é o resultado do Ser e do Não-Ser, ou do limitado e do ilimitado
(o Ápeiron de Anaximandro). Assim, se a unidade existe, a pluralidade
também deve existir.
O ponto
de partida da filosofia pitagórica parece ser a defesa da ciência matemática
contra os eleatas. Ao atacar o conceito de unidade absoluta, eles mostraram que
a própria unidade comporta predicados contraditórios, o que a torna um conceito
impossível por si só. Eles acreditavam que, uma vez afirmada a existência da
unidade, a pluralidade poderia ser deduzida.
Os
pitagóricos acreditavam que a verdadeira essência das coisas estava em suas
relações numéricas, afirmando que não há qualidades, mas apenas quantidades.
Essas quantidades seriam delimitações do ilimitado, analogamente ao Ser
potencial de Aristóteles.
A Música
e a Harmonia Universal
Um dos
pilares do pensamento pitagórico é a música. Eles perceberam, através do
monocórdio, que as variações sonoras dependem da extensão da corda. Isso os
levou a concluir que a música — que existe em nossos nervos e cérebro — é, fora
de nós, pura relação numérica.
A música
se tornou o melhor exemplo de sua filosofia. Eles acreditavam que o universo
podia ser expresso exclusivamente por números. A acústica foi a ponte que
permitiu afirmar que tudo o que é qualitativo é, na verdade, quantitativo. Essa
ideia é a base da física e da química modernas.
Contribuições
para a Ciência e a Moral
A
filosofia da natureza e a astronomia pitagóricas representaram um grande
avanço. Os pitagóricos afirmaram a esfericidade da Terra e dos outros corpos
celestes, além da sua rotação e revolução em torno de um foco central. Essa harmonia
das esferas — a música permanente produzida pelo movimento dos astros — é a
própria tessitura do que o homem considera "silêncio".
Na moral,
o conceito de harmonia domina, conectado às práticas ascéticas e à crença na
metempsicose e na reencarnação das almas. A grande novidade introduzida por
Pitágoras foi transformar a salvação da alma em um esforço puramente
intelectual: a purificação resultaria do trabalho da mente, que descobre a
estrutura numérica das coisas.
O
Escândalo dos Irracionais
A
concepção pitagórica de que a extensão era descontínua e composta por unidades
indivisíveis logo enfrentou um grande desafio: os números irracionais. O
principal impasse surgiu com o próprio teorema de Pitágoras, onde a relação
entre o lado e a diagonal de um quadrado (√2) não podia ser expressa por
números inteiros.
Esse
"escândalo" abalou as bases de sua matemática, mas, ao mesmo tempo,
impulsionou o desenvolvimento de toda a ciência e filosofia gregas. O legado de
Pitágoras é um lembrete do poder do pensamento exato e da busca por uma ordem
oculta por trás da aparente complexidade do universo.
"Se
essa mensagem tocou você, compartilhe com quem pode estar precisando."
m.
trozidio
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