Conceptualismo – O Segredo de Deus – XX continuação...

Dá-se, pois, a construção do objeto, a partir do fenômeno mas sem nada extrair do mesmo. Exatamente porque nada extrai do fenômeno, principia a divergência com a velha filosofia aristotélica. Além de haver reduzido o fenômeno a uma inconsistência fenomenal, sem qualquer conteúdo real, não encontra mais nada nele, com que prosseguir uma construção.

Tem certa razão, o opinar de Kant. Um vez que esvaziou o fenômeno, nada contém para retirar; se o converteu em fenomenalidade, não pode conter estruturas ontológicas. Recaiu Kant nos defeitos capciosos da dúvida metódica de Descartes.

Não errou Kant ao duvidar metodicamente. Mas poderá ter errado ao ter conduzido a dúvida a separar e distinguir entre a realidade e a fenomenalidade, entre o lógico e o ontológico. Esta divisão poderá ser meramente de razão. E então, poderá a divisão inexistir como efetiva. Neste caso a solução do problema crítico seria mesmo o do realismo, afastado qualquer fenomenalismo.

Mas, uma vez usado o expediente, e postado o duvidante num plano meramente fenomenal, ou, lógico, não tem como sair deste vazio, para um plano real; seria marchar do menos para o mais, como aconteceu no realismo mediato de Descartes.

Mais coerente, Kant, depois de estabelecer que o fenômeno é apenas fenômeno, fechou-se nele. Nada poderia extrair para construir um objeto real; foi coerente na continuação, pelo menos na Crítica da razão pura.

Somente é possível combater a Kant, postando-se no plano inicial da própria dúvida metódica. Importa, então, saber se ele podia ter posto em dúvida a realidade do fenômeno, ou seja, se podia ter reduzido o fenômeno sensível a sua mera mostração.

Se, entretanto, por cálculo raciocinativo, me cogito que algo exista atrás do fenômeno, isto que ali me imagino, somente o posso admitir por mérito e risco da razão.

Mas, tudo que a razão se calcula, não tem qualquer base ontológica; não passa de uma teia imaginosa. Sem intuição inicial da realidade exterior, apresenta-se impossível qualquer metafísica do ser, ou ontologia. Parece-nos que Kant tem razão. O mesmo princípio vale em Aristóteles; este não faz metafísica só com as idéias, mas a partir de realidades sensíveis. Como o papagaio de papel, preso ao cordel, por mais que suba não se desprende a metafísica aristotélica da realidade intuída no exterior da mente; rejeita tudo quanto Platão afirma por conta da simples análise e raciocínio no plano das idéias captadas apenas no mundo da razão.

A diferença de Aristóteles para Kant é apenas a de que o macedônio acreditava no conteúdo real do fenômeno intuído, e o professor de Koenigsberg não admitia esta realidade, reduzindo a intuição sensível a uma pura mostração.

Contudo a inteligência humana constrói, diz Kant, porém com simples soma de elementos apriorísticos, portanto não extraídos do fenômeno. Eis o construtivismo kantiano em marcha.

"Mas se é verdade que todos os conhecimentos derivam da experiência, alguns há no entanto, que não têm essa origem exclusiva; poderemos admitir que o nosso conhecimento empírico seja um composto daquilo que recebemos das impressões e daquilo que a nossa faculdade cognoscitiva lhe adiciona ( estimulada somente pelas impressões dos sentidos ); aditamento que propriamente não distinguimos senão mediante uma longa prática que nos habilite a separar esses dois elementos".

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